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casa das artes
3 anos 1 mês

Pensar para lá da saúde em 2021

Se o número 2 significa a dualidade e a necessidade de viver em harmonia e, se o número O significa o tudo e o nada, a origem e o fim, então penso que não haverá melhor para descrever este ano, este 2020, porque veio tudo a dobrar e nunca estes conceitos tiveram tanto valor.

Um ano que pelas suas circunstâncias nos ensinou que a vida é curta, o tempo é limitado e o fim poderá estar mais próximo do que imaginávamos. É, nesse sentido, que devemos procurar viver o mais intensamente possível, feliz, em harmonia, mesmo quando tudo parece tão negro.

Assemelhando-se a uma guerra, a pandemia do covid-19, trouxe consigo momentos devastadores, a morte de milhares de pessoas, os funerais vazios e escuros, a falta de abraços e de carinhos e, sem dúvida, a falta de convívio e de cultura.

É sobre a cultura e sobre o desporto que vos quero falar. O desporto faz parte da cultura do dia-a-dia de muita gente, seja como praticamente ou como mero observador.

Na minha opinião a pandemia trará consequências para o desporto irreversíveis e aqui refiro-me ao praticante. Vemos formações paradas, sem treinos, sem competição, levando à desistência de centenas de atletas que vão claramente passar de crianças ativas para crianças sedentárias trazendo consigo inúmeras consequências negativas para a sua saúde física e mental. Para além das consequências para as nossas crianças e para os nossos jovens, sabemos que as formações trazem dinheiro aos clubes, nomeadamente no futebol, sabemos também que, com a sua paragem, existem clubes a sofrer graves dificuldades, graves quebras, a perderem uma estrutura pela qual têm lutado diariamente. E aqui chamo a atenção para os atletas semi-profissionais e profissionais que vêm os seus salários serem afectados, na incerteza, em muitos casos, se no final do mês podem contar com aquele dinheiro ou não e isto é grave.

E, aquilo que me choca e que, para mim, é muito grave é que por parte do Estado, tanto para a cultura como para o desporto a carência de políticas, de apoios, é escandalosa. E choca-me ainda mais que, no caso do futebol, um desporto que rende milhões, não existam políticas e que deixem acabar com os pequenos clubes. Estes pequenos clubes vivem exatamente das crianças da formação e do mero observador, do adepto, que até ao dia de hoje está impossibilitado de ir ao estádio assistir àquele que, para muitos, como eu, é um momento de alegria, mesmo quando o nosso clube sai derrotado. É um momento de convívio, de amizade, de confraternidade.

O meu desejo para 2021? Que não pensemos somente na saúde. Esta deve sim estar em 1º lugar mas nunca sem a economia e a cultura ao seu lado, a remarem, as duas, no mesmo sentido que será, certamente, o da normalidade. As pessoas estão cansadas de estarem confinadas, de verem os seus direitos serem constantemente restringidos sem uma luz… Uma luz de esperança. A vacina é uma luz de esperança para a nossa saúde, mas falta-nos uma vacina para a nossa cultura, para o nosso desporto, para a nossa economia.

Que 2021 traga todas as luzes que precisamos para vivermos em harmonia e, conforme comecei este texto, que a simbologia do número 1 prevaleça, que prevaleça a unidade, a união da força e o início de uma nova era, de paz.

 

Marta Alves, Estudante Universitária de Criminologia e atleta de futebol do Sport Clube de Freamunde