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casa das artes
3 anos 1 mês

O valor da violência verbal na narrativa política

Era usual os professores proporem aos alunos a escrita dum texto (era a hora da  redação) e, após abril de 1974, o tema “25 de Abril” ou outros temas atinentes apareciam  frequentemente. O resultado era, amiudadas vezes, uma produção descritiva – narrativa  em que o (a) aluno (a) transcrevia o que a memória lhe facultava após exposição exaustiva por parte do (a) docente.  

Um dia, um miúdo, com os seus nove anos expeditos e airosos, elaborou um texto  que me fez explodir de alegria e orgulho e espanto. A certa altura dizia ele “Eu pensava  que a revolução se fez também para a união dos portugueses, mas ainda há dias vi dois  vizinhos à bordoada, porque a revolução não tinha o mesmo sentido para cada um” (este  pedaço de texto apenas precisou duma correção ortográfica). 

É verdade. Os homens não sabem discutir as diferenças e apõem-lhes as suas  malquerenças. E, no auge do arguir fazem de política, um campo de liça, um átrio de  pugilismo. Isto acontece também no desporto, designadamente no futebol. Exacerbem-se  os ânimos e os entusiasmos, levam-se ao limite as emoções e envergonha-se a  sociedade, o Homem.  

Não foi esta a finalidade do 25 de Abril que pretendera antes a paz pública, o  predomínio do nós sobre o eu e a instauração de democracia, já esboçada na antiga Atenas e pelos barões ingleses que, no fim do séc. XII obrigaram o rei João sem Terra a  promulgar e assinar a “Magna Carta”, um documento preponderante no desenvolvimento  da democracia moderna, na luta pela liberdade e pela afirmação dos direitos humanos.  Não convém, porém, que confundamos união com uniformidade. A união subentende  antes a conjugação de esforços no sentido do bem estar social e público, da tranquilidade  e estabilidade, do respeito pelo outro e da aceitação das diferenças e da multiplicidade de  crenças, de perfilhação partidária, de agremiações desportivas, de religiões e de  tradições. É a união na diversidade.  

Valerá a pena, andarmos a acotovelar-nos, a bater-nos com a palmada pseudo fraterna nas costas e o sorriso com o trejeito de amizade profunda mas falaciosa? Que a união seja perfeita e não modelada para parecer bem e cativar pessoas,  adeptos, votos ou simpatias.  

Apercebemo-nos que atualmente algo de idêntico se passa nas relações entre o  PM e o PR, neste país do 25 de Abril. Até quando?

Rosalina Oliveira