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casa das artes
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O almoço de Quinta-Feira, preparando a Páscoa de todos

Todas as semanas regresso à quinta-feira! Lembro-me da mesa à volta da qual o mestre reuniu os seus confidentes para que comessem, bebessem e conversassem, ao longo do tempo e, sobretudo, para que repetissem a memória em tempos vindouros – aqueles em que ele sabia que não estaria.

Ele sabia que a sua ausência os equivocaria e criaria uma tremenda noite, fria no obscurantismo nefasto. Viria o medo – pai de tantas coisas.  Afinal Ele sabia que entraríamos nas noites do silêncio de Deus, com vozes a clamar no espaço infinito, confrontados com o silêncio de homens e mulheres que nada mais querem do que justiça e compaixão.

Mas Ele sabia mais do que isto. Mas falou pouco. “Comei e bebei”. Também lembrou: “fazei-o em memória de mim”.

A nossa história é feita de esquecimentos e procura sempre a memória conveniente; por isso Ele subiu na cruz e se deu. Teve o cuidado de celebrar a festa do encontro feita de partilha antes de se submeter no altar da opinião (pública e oficial). E rebentou o último foguete da glória quando o ofício da verdade preferiu o malfeitor (aquele que representava o mal fazer), na escolha final.

Ele que usou o chicote para limpar o Templo senhor do Tempo que era dado viver mas onde nada se partilhava e tudo se vendia, sucumbiu à espera dos lençóis de Maria Madalena que o perfumou.

E consta que desapareceu.

Nas minhas quinta-feiras, almoço com amigos, familiares e às vezes com inimigos. Saio sempre da mesa com esta comichão de Deus: “estás a ver como vale a pena?”

Arnaldo Meireles