Haverá alguém com poderes para traçar as linhas do céu? Impedir o céu azul de Freamunde de ser invadido pela silhueta de luz da igreja matriz é um bem disponível? Retirar da memória presente e futura aquele foco de luz que uniu gerações é imaginável? Parece que sim; e aqui fica registado o lamento de quem, desde pequeno, ali acorreu, pela mão dos seus familiares, para ver a “iluminação da nossa igreja”.
Ao lado da matriz temos agora uma nova igreja que dispensa este acto pois ela própria é torrente de luz. E que bem que fica essa iluminação desenhada por quem a traçou. Mas a matriz – construída noutro tempo – precisa de ser iluminada para cumprir a sua função de farol num evento de primeira.
Iluminamos porque queremos que se faça luz; porque fazendo luz, realçamos o que é essencial. E queremos isso até porque é bonito, gostamos e temos prazer e até orgulho de ver, experimentar e mostrar a “nossa” igreja.
Esta decisão da “apagar” a igreja é complexa; evita o prazer de a ver iluminada e dá um gozo completo àqueles que desde sempre gostariam de a ver até apagada da memória.
É uma decisão complexa, mas de frágil argumentação porque assente num receio eventual e futurível que não deveria atemorizar gente experiente.
Nas ocasiões públicas de afirmação da nossa cidade e da nossa gente precisamos de nobreza nos actos solenes. Iluminar edifícios e lugares sagrados é assim um acto cultural e por isso de civilização.
Precisamos destes sinais para educar os nossos filhos e netos. Com brio, sem medo e com confiança. porque não podemos ficar amarrados apenas à água do Agrelo.
Por Arnaldo Meireles
NOTA – Aprendi a festejar as Sebastianas pela mão dos meus familiares a partir dos 4 anos. Era preciso ir a Freamunde ver “a iluminação da igreja, uma coisa de outro mundo!”. E com esta narrativa se construiram epopeias que alimentam a tradição que, também, nos faz e orienta. Por isso dizemos que “Freamunde é grande”
COMUNICADO DA COMISSÃO DE FESTAS:
Paços de Ferreira, 29 de Junho, 23h30horas
No dia 16 de Junho, celebrou a paróquia de Santa Eulália a festa do Corpo de Deus. Ainda ontem, a igreja matriz iluminava a cidade. Discreta, altaneira mas solene: quem não gosta de entrar numa cidade e ver este sinal de respeito pelo sagrado?
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