Eram 17,00 horas do dia 3 de Maio de 1987. O Sport Clube de Freamunde tinha acabado de vencer o Futebol Clube de Paços de Ferreira, por 1-0, com golo de Serginho. No final, os adeptos do Freamunde, junto aos balneários, davam largas à euforia, saudando os seus “heróis”.
Na 3 de Abril de 1988, dia de Páscoa, o velhinho Carvalhal conheceu provavelmente a sua a maior enchente de sempre com o concerto dos Xutos & Pontapés, numa organização da Comissão das Sebastianas. Era também o segundo concerto desta banda com a maior assistência, à época, cerca de 4.200 pessoas. Era o segundo concerto do lançamento do álbum “88”.
A canção “A minha casinha” foi um momento de “explosão” e vibração intensa. “As saudades que eu já tinha da minha alegre casinha…”. Como é intensa a saudade que já todos temos daquela que foi a nossa “casinha” durante décadas.
A “Turma 1933”, claque do nosso clube, colocou ontem algumas faixas na cidade, saudando o clube pelo seu 88.º aniversário e colocaram também uma faixa no balneário do Campo do Carvalhal, lembrando que ali é que nasceu o nosso clube. Hoje foi a vez da Tucha “Loreira” e mais alguns jovens moradores da Urbanização do acrescentarem uns balões azuis e brancos. Emocionei-me com o carinho com que o estavam a fazer e terem dito que ali é que nasceu o Freamunde.
Todos sabemos da realidade financeira do nosso clube, chegou a ter um fim anunciado mas que vai resistindo às adversidades. Nós vamos vencer… sempre, vamos honrar a memória dos nossos heróis, como cantamos no nosso hino. O nosso último herói foi o Carlos Ribeiro, “Moca”, um filho da terra, da nossa fibra, raça e querer, que no último jogo marcou o golo da vitória quando já pensávamos ser impossível. Lembram-se como vibrámos?
Goooooooooooollllllllooooooooooooo. Ele demonstrou que temos que acreditar sempre. Um golo do nosso clube é sentido com a mesma intensidade num campeonato distrital como quando estivemos na II Liga, é igual… é a nossa camisola, é a luz da nossa estrela… a que nos ilumina.
Todos sabemos que o velhinho Carvalhal deu origem a uma urbanização. Era suposto que os balneários já tivessem sido destruídos, como foram certamente destruídos os balneários de muitos clubes. Se isso fosse possível de concretizar, quanto dinheiro é que não dariam os clubes ricos para terem os balneários que fizeram parte do princípio da sua história e da sua vida durante décadas? Quanto dariam? Quis o destino que um clube com problemas financeiros seja rico.
E porquê? Depois dos primeiros balneários terem sido construídos em madeira junto à carvalheira, de que já poucos freamundenses se lembram, estes foram durante cerca de sete décadas os balneários onde os nossos heróis e os nossos adversários e os árbitros se equiparam, onde existia a Arrecadação com os equipamentos, as bolas, as redes, as bandeirolas e as chuteiras.
Ao estarmos perto destas paredes sentimos passar com mais intensidade na nossa “tela mental”, no baú das nossas recordações, tantos e tantos momentos de glória e felicidade das nossas equipas de Séniores, Juniores, Juvenis, Iniciados, Infantis, Velhas Guardas e o Futebol Feminino, sim, do tempo da Júlia “Candeeira” e da Paula “Coveira”.
Não sei a quem pertence este terreno, se a quem construiu a Urbanização, ou se entretanto mudou de proprietário. Em princípio será de propriedade privada. Sei é que os Freamundenses devem olhar com carinho para este pedaço da sua história e não o deixarem ser demolido.
A Direção já tem com que se preocupar, mas tal como em tempos houve uma “Comissão de Obras” para o nosso estádio, devemos pensar em formar uma comissão de sócios que possa auxiliar a Direção a ultrapassar as burocracias necessárias, nomeadamente de propriedade, a angariar freamundenses que possam oferecer a sua mão de obra para o restauro necessário, quem possa oferecer e quem possa ajudar a custear os materiais necessários, tudo o que for necessário.
As paredes estão lá, é necessário lavar a “cara” e dar brilho ao espaço, permitir que possa ser um espaço de exposição documental e multimédia da nossa história, para que os nossos “estrelinhas” possam conhecer melhor a história do nosso “Fre Fre”, que possa eventualmente ser a nossa sede social, como já tivemos em tempos, que possa ser uma fonte de receitas para o clube.
É sabido a enorme quantidade de jantares/convívio que são realizados todos os anos entre ex-atletas, nomeadamente dos escalões de formação. Quanto não seriam felizes em brindar e “abraçar” as memórias e vitórias dos seus tempos no local onde antes se equiparam? Quanto?
Do velhinho Campo do Carvalhal só restam as memórias, mas o seu “coração” ainda está lá, ainda resiste, mas nunca ouviu o nosso hino lá ser cantado. Vamos em frente? Quem quer ajudar? Para que um dia todos lá possamos cantar o nosso hino:
Sport Clube de Freamunde
Honra a memória
Dos teus heróis
Faz azul e branca a história
Doura a estrela com mil sois
Rola a bola presa à bota sempre em frente
Camisola azul tingida de suor
E se é golo na bancada salta a gente
Contente,
És o maior!
Quando nem tudo está bem fica a certeza
Que a seguir os bons momentos surgirão
E os nossos jogadores com destreza
E firmeza
Vencerão!
No velhinho Carvalhal foi lindo e puro…
Tardes cheias de glória recordar…
Mas agora o nosso estádio é o futuro
Que eu juro
Vai brilhar!
Freamunde a nossa garra a ti pertence
Vou dizer bem alto o teu nome e dizer
Nesta terra toda a gente seja e pense
Freamundense
Até morrer!
(Letra e música: Carlos Cabral)
Texto: Pedro Ribeiro