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casa das artes
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O futebol está estragado

A meu ver, o futebol está estragado. Formei esta opinião depois da saída de Messi do Barcelona
para o PSG. Quando vi aquele acontecimento fiquei revoltado e pensei no que o futebol se está a
tornar.
Ao longo da minha vida, sempre ouvi pessoas mais idosas a dizer coisas do género
“antigamente os jogadores jogavam com amor à camisola, agora eles só querem dinheiro.”. Para
além disto, ouvia histórias memoráveis de jogadores que passavam a sua carreira desportiva no
clube mas, na realidade, raros são os casos que vi isso a acontecer.
Olhando para o que acontecia antigamente, como é que se explica a situação de Messi? O astro
argentino jogava no Barcelona há 21 anos, o que no futebol moderno era um dos poucos
exemplos do “amor à camisola”, visto que na sua carreira só tinha representado o Barcelona e
foi praticamente obrigado a deixar o clube. Então como é que se explica que um jogador que
tem algo tão raro tem de sair do clube que mais ama? A explicação é muito simples, o dinheiro e
o negócio. Lewis Hamilton, sete vezes campeão mundial de Fórmula 1, teve uma frase
memorável numa conferência de imprensa que explica muito bem esta situação de Messi “Cash
is king”, traduzindo para português “O dinheiro é rei”. Podemos especular e dizer que Messi
podia ganhar muito menos mas, um dos melhores jogadores de todos os tempos não merece ter
um salário muito superior aos outros? Será que o problema do salário de Messi é culpa dele? Na
minha opinião, não, o futebol e quase todos os desportos estão a entrar no ridículo. Messi era
um dos jogadores mais bem pagos do planeta mas, os valores que os jogadores ganham, os
valores a que os mesmos são vendidos não fazem sentido.

No futebol de formação, existem jovens de 16, 17 anos que já recebem salários mais altos que
alguns jogadores que jogam na primeira e segunda liga, com cláusulas de rescisão altíssimas e
com contratos profissionais. Os jogadores do escalão sénior são vendidos por milhões. Haaland
(jogador do Borussia Dortmund e uma das maiores promessas do futebol mundial) foi
questionado numa conferência de imprensa sobre a possível transferência para o Chelsea a
rondar os 175 milhões de euros, a reação do norueguês foi a seguinte “Espero que sejam
rumores, é muito dinheiro para uma pessoa”.

Como é que é possível o futebol ter chegado a isto? Os jovens deviam-se divertir a jogar futebol, em vez disso quase que aos 16 anos conseguem viver do futebol. No futebol sénior, parece que se andam a traficar humanos vender
pessoas por milhões. Analisando estes factos impõe-se as seguintes perguntas: Será possível
resolver estes graves problemas? Se sim, quais são as soluções?

A solução para estes problemas já está a ser adotada em alguns desportos, que não o futebol. A
primeira medida seria a proibição de pagamento de jovens, a não ser que estes já integrem as
equipas principais dos seus clubes. A segunda medida, entraria naquilo que a NBA (melhor liga
de basquetebol do mundo) e a Fórmula 1 já fazem, as transferências só ocorrerem quando os
desportistas acabarem os seus contratos. Esta segunda medida é das mais difíceis de
implementar mas, no mínimo, haver uma limitação do valor máximo das transferências. A
terceira e última medida, passaria, mais uma vez, por aquilo que acontece na NBA, uma
limitação do conjunto salarial das equipas, ou seja, definir o máximo que o plantel todo junto
pode receber como salário.

A essência do futebol está cada vez mais a perder-se. O futebol passou a ser um mero negócio,
em que só importa o dinheiro e os lucros. Gostava de poder um dia sentir o futebol e perceber
aquilo que quase nunca vi, o “amor à camisola”.

Por David Carvalho