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Reflexão: a pandemia e o futebol distrital

Marta Alves, ex-atleta do SC Freamunde, editou um manifesto onde reflecte sobre o futebol distrital nesta fase de pandemia considerando que urge tomar medidas de protecção ao sector. Aqui fica a sua reflexão.

Ora, penso que devo iniciar este artigo exatamente pelo motivo pelo qual inicio este movimento. 
O Sport Clube de Freamunde é uma casa fundada em 1933, cheia de história, de alegrias, algumas tristezas e de várias conquistas. É verdade que, nos últimos tempos, assistimos sempre a notícias desfavoráveis ao meu, nosso, clube, nomeadamente por questões financeiras. Mas também é verdade que temos vindo a reunir esforços para ultrapassar estas dificuldades, esforços esses que podem vir a ser insignificantes se, no âmbito das políticas de Estado decorrentes da pandemia COVID-19, continuarmos a ignorar e, na minha opinião, de forma negligente, as dificuldades dos clubes distritais em geral e, do Freamunde em particular.
O motivo pelo qual venho chamar a atenção para esta questão é simples: sou freamundense de origem, desde sempre que ouço o meu pai dizer “amarelo não”; fui atleta do clube e não, não era por ter qualidade enquanto jogadora, mas por ter qualidade enquanto mulher freamundense, enquanto defensora dos valores deste clube que é o clube da minha terra e enquanto sócia, adepta e simpatizante do meu Freamunde.
É por estes motivos e outros tantos que me sinto obrigada a relembrar que é preciso tomar medidas. O futebol distrital vive, maioritariamente, das receitas das bilheteiras. Sim, por incrível que vos possa parecer, o futebol distrital tem adeptos! 
Neste momento vemos formações paradas, ao nível masculino e feminino, não existe um futuro sustentável para combater as dificuldades que estes clubes vão enfrentar, inclusive poderá levar à extinção de várias formações visto que, todos os jogadores, procuram competição. 
E as minhas questões, às quais eu não encontro resposta passam por enumerar desde já alguns factos:
– De acordo com alguns estudos primários realizados, o Covid-19 tem levado a outras doenças, como por exemplo, a ansiedade e a depressão
– Se o desporto e, no caso o futebol, são uma atividade económica geradora de elevadas quantias monetárias, porque é que se mantém parada? 
– Se o desporto e, no caso, o futebol, já foram vistos pela OMS como terapia, porque é que está parado?
– Se as políticas e leis decorrentes do estado de pandemia são, naturalmente, um apelo aos deveres cívicos porque é que somos interditos e restritos ao nosso direito à cultura e ao lazer?
É, neste sentido, que faço um apelo às autoridades de saúde, aos órgãos de poder e a todas as entidades possíveis e impossíveis, para que estejam atentos ao que se está a passar. Os estádios de futebol distrital têm, na sua maioria, bancadas com lugares numerados sendo, por isso, possível cumprir medidas de distanciamento, uso obrigatório de máscara e, eventuais medidas que possam impor. O que temos vindo a assistir e que pode ser comprovado com diversas imagens publicadas ou mesmo com as forças de segurança locais destes clubes é que os adeptos se concentram em locais fora do estádio mas que permitam visibilidade para dentro, ou seja, concentramo-nos em montes para conseguirmos assistir aos jogos, mesmo que só consigamos ver metade do campo. Posso arriscar dizer até que, ser interdito de ver um jogo, cumprindo as medidas de segurança impostas pela DGS, leva a maiores ajuntamentos em espaços que nos dê visibilidade suficiente seja para cantar e apoiar o nosso clube, seja para reivindicar estas medidas. 
Como prova de que é possível cumprir, faço referência aos mediáticos jogos decorridos em Portugal que abriram portas aos adeptos: falo por exemplo, no jogo da selecção portuguesa ou mesmo, no jogo do campeonato de Portugal entre o Fontinhas e o Estrela Amadora que, ao que tudo indica ocorreu dentro da legalidade e, com sucesso, sem focos de contágio. Faço referência, ainda, a países com uma quantidade de população e adeptos bastante superior à nossa que, já abriu portas, falo na Alemanha (Bundesliga) e falo, ainda, na China, país onde se detetou o primeiro caso de COVID-19 e que foi um autêntico terror em números de infetados e mortes.
A minha proposta para as autoridades que me estejam a ler, visto que lhes vai ser chegada uma Carta Aberta, é de que dê uma oportunidade ao futebol distrital de se reerguer sob pena de, à mínima falha de cumprimento, voltarmos à interdição. Mais regras, mais medidas, mais prevenção, mais segurança, mas nunca o fim. 
Peço ainda, aos clubes distritais que estejam a ler este artigo ou esta carta que se juntem ao movimento, que se juntem em prol da nossa cultura, da nossa identidade, se não for por mais que seja, pelo menos, para que nos dê a oportunidade de lutar pelos clubes que aos domingos de tarde nos enchem o coração de alegria e que todos os dias lutam e procuram uma luz para sobreviver a esta pandemia distrital.
Texto Marta Alves