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STOP – Calúnia política e vida pessoal

CORRECÇÃO DE TEXTO

A crónica, abaixo descrita e editada ontem, contém um erro de facto que aqui se corrige. A participação como testemunha de Alexandre Costa num processo em que está envolvida a pessoa do presidente da câmara, teve a ver com uma questão de natureza comercial e não criminal como se refere. E decorre de uma citação que este recebeu por ter participado numa reunião pública, no edifício do município.

Não podia assim faltar, tendo marcado presença no tribunal de Amarante no que foi acompanhado de outras pessoas também citadas, como foi o caso do comandante da GNR. Por esse motivo, o “julgamento político” feito na crónica abaixo descrita não faz sentido.

A coincidência de datas dos dois julgamentos e a qualidade da informação recebida provocou esta confusão e precisa deste esclarecimento. Aos leitores as nossas desculpas, ficando no nosso registo a primeira vez que corrigimos um texto editado.

Sublinhamos e mantemos a aposta necessária na distinção entre vida privada e acção política. Respeitando todos os intervenientes reforçaremos a qualidade da nossa democracia.

Arnaldo Meireles, director de Informação da Rádio Freamunde.


TEXTO ORIGINAL

O presidente da autarquia foi sujeito a julgamento por opções da sua vida pessoal e saiu do tribunal ilibado da acusação de que foi alvo. A acusação foi conhecida pela partilha nas redes sociais, teve repercussões políticas decorrentes do facto de ser figura pública e com uma notoriedade elevada.

Para os seus detractores e adversários políticos, a decisão do tribunal pouco interessará, sobretudo para os que optam por manter na ordem do dia – e como discurso político – questões da intimidade pessoal, invadindo uma esfera que devia ser protegida.

Mas a ligeireza da narrativa política praticada no nosso concelho ainda mantém ao nível do sub-mundo a capacidade de argumentação e, à falta dela, passa-se, facilmente, ao domínio do insulto. Ou ameaça de “batatada” – tantas vezes!

Desde o 25 de Abril que conhecemos muitos exemplos desta ligeireza que, infelizmente, se traduz – mesmo nas assembleias municipais – num repetitivo pedido de “defesa da honra”, ao mesmo tempo que proliferam insultos, insinuações, nascidos de um orgulho ferido por qualquer pormenor, tendo como consequências amuos – tantos deles provocadores de “cortes de relações” pessoais.

O discurso político praticado tem causado divisões, alheamento de muitos pela causa pública, e divisões familiares acontecem, sobretudo por ocasião das campanhas eleitorais. Rupturas que no futuro impedem a mútua colaboração em projectos dinamizadores das nossas comunidades, em indisponibilidades dos nossos melhores para colaborarem na vida das nossas instituições.

Liberto da acusação que sobre ele pendia, o presidente da câmara desabafou na sua página pessoal, um texto deselegante, onde comentava depreciativamente a função comercial e profissional do seu principal adversário político. Com isso, provocou uma avalanche de “solidariedade” de proteção ao visado – o que é natural.

Mas, nada acontece por acaso, mesmo vindo de um presidente que ferve em pouca água, e tem na ponta dos dedos uma velocidade de escrita que escapa à prudência e não espera pelo aconselhamento dos seus.

Antes de ouvir da boca do juiz que a acusação não se confirmava, o até ali acusado escutou, com surpresa ou não, o seu maior adversário político nas últimas eleições autárquicas, a falar e ser testemunha de acusação, suportando assim, embora na qualidade de cidadão, a versão que o acusava de crime grave em matéria de índole pessoal.

O cidadão acusado é presidente da Câmara, a testemunha de acusação é líder de oposição. Onde começam e acabam as relações/questões pessoais e onde começam e acabam as relações/questões funcionais?

Estamos no domínio da gestão do princípio da liberdade de acção e de expressão, onde se devem distinguir o estatuto dos intervenientes, e nada fazer para os confundir, contribuindo para a clareza/esclarecimento da questão em aberto.

A entrada em cena do cidadão Humberto Brito era inevitável perante a natureza da questão em aberto, e a necessária defesa tinha de ser feita. A acusação tinha de ser julgada, com testemunhas de suporte, para ser aceite e assim foi. Se a presença de Humberto Brito era essencial e insubstituível para que a justiça fosse praticada, o mesmo não se pode dizer da colaboração de Alexandre Costa, testemunha de acusação (não essencial) ao processo. Mas o líder da oposição marcou presença, a título individual, e testemunhou visando a condenação criminal do até aí “arguido”.

Respeitássemos e distinguíssemos todos nós a vida pessoal da vida política, e talvez este episódio não tivesse acontecido. Ficávamos todos melhor: esperar e respeitar a decisão da justiça, respeitar e proteger a intimidade e liberdade de cada um.

Se formos capazes disto, é sinal de que teremos destinação para nos envolvermos na política, isto é, na causa pública. Nesse caminho tenhamos em conta que a nossa liberdade termina onde começa a dos outros. E que a calúnia é filha da inveja e por isso nos arruína a todos.

E agora, mais ao de leve….

Falar em política de frigoríficos tem dado os seus efeitos e é preciso ter cuidado. Nos anos 80, Arlindo Neves era vendedor de frigoríficos e “limpou” a Câmara de Gondomar com maioria absoluta. É certo que depois perdeu o mandato para o “camarada Aníbal Lira” que nada tinha a ver com comércio de electrodomésticos.

Não sabemos se foi por isso, mas em 1994, Anibal Lira perde a Câmara para Valentim Loureiro que inundou o concelho com a oferta de tachos, panelas e frigoríficos! Fica o registo e a pergunta: que profissão deve ter um candidato à Câmara?