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Silêncio de Salgado garantido em tribunal

Seguem-se as perícias médicas (as obrigatórias juntas médicas) e delas sairá um relatório “independente” que, provavelmente, atestará a tese da defesa.

Contudo, existe matéria suficiente coligida pelo tribunal para que o julgamento prossiga. O contrário constituiria um terramoto jurídico, com consequências políticas difíceis de avaliar, no imediato.

É provável que a alegação da defesa se confirme. O que coloca a questão de saber a quem beneficia.

As declarações de Salgado que não vamos ter

“Ai se Salgado falasse”….. Este sentimento já invadiu os portugueses nos últimos meses. E outros, alguns, temeram e expressaram-se de outra forma: “Ai se ele fala…” Parece o mesmo, mas não é. Como nas moedas o discurso possível tem duas caras – o que se pode dizer, o que importa esconder!

Todos sabemos que a verdade não é o caminho final da justiça. Ela está condenada a percorrer o itinerário dos factos “apurados”. E assim construimos uma sociedade “transparente”. Aquela que é possível.

O contributo de Salgado que não vamos ter

Nestes casos de julgamento de actos de corrupção, de dimensão e interesse nacional, deveria existir o “estatuto de delação premiada”. Só por aí o Estado se pode defender e regenerar a sua imagem pública e, assim, manter a sua dignidade institucional.

Este seria o caminho perante uma situação de bloqueio como o que vivemos no nosso país, onde os casos de corrupção se multiplicam, sempre com as mesmas fontes, metodologias, e também sempre com as mesmas personalidades centrais, incólumes às mudanças de governo definidas pelos eleitores.

Perante as promessas de mudança (para melhor) os eleitores vêem, desde sempre, que o “arco de corrupção se mantém”, apesar da alternativa democrática conseguida depois de Abril de 1974.

E todos sabemos que com o regresso de Salgado do “exílio” em Paris, com a consequente reentrada nos balcões do BESCL – Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa – se iniciou um processo de teias acumuladas de influência, com o tempo transformadas num “mecanismo de acção” que se transformou em “escola bancária” e criou uma cultura financeira e política que agregou interesses de bancos e de governos.

Este ambiente “financeiro” e “apolítico” definiu as regras de funcionamento, escolhendo escritórios de “decisão” (advogados) e indicando “os” ministeriáveis aos vencedores eleitorais.

Olhando para a democracia construída, até parece que estas regras estão na Constituição! Mas não estão, e esse é o princípio de esperança que deveria levar a política portuguesa a promover uma mobilização de “mãos limpas”.

Mas Salgado não vai falar. Já o adivinhávamos e agora sabemos a razão apontada – ele não se lembra. E os criminosos dos costume respiram de alívio.

Foto RR – https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2021/07/26/ricardo-salgado-passeia-na-sardenha/247471/