Era uma vila recheada de comércio que agitava as ruas, sobretudo a Rua do Comércio, assim apelidada pela existência de lojas, muitas lojas. Ainda existe a rua na sua toponímia e um comércio residual embora convidativo, pela convivência fraterna que difunde.
De quem a culpa pela decadência desta interessante forma de atividade humana? Da alienação do progresso. Urge comprar ao longe, onde o diferente assume um pragmatismo moderno egoísta e aburguesado. Intramuros, quase só as grandes superfícies florescem, também por aburguesamento dos hábitos. Parece um pesadelo coletivo.
Onde repousam as cinzas dos Regos, Oliveiras, Taipas, Nogueiras…? Não se realiza a epigonia nos seus descendentes…Não pretendo desviar o meu desalento para os comerciantes. Alguns apostam mas abrem lojas… fecham lojas. Podemos prová-lo por A+B, o estafado argumento de que aqui não há nada, deveria ser demolido. Dará se todos quisermos.
Antigamente, os clientes eram em grande parte da cidade vizinha de Paços de Ferreira. Era vulgar a afirmação “Os de Paços até para comprar uma agulha vêm a Freamunde”. Mas quem parou na vacuidade? Quem evoluiu? Onde estão os bairristas? Prefiro ficar no cinzentismo das questões e não adiantar nas respostas que me magoam, que nos magoam.
Nem exposições fortes de móveis… quem se recorda da grande montra, o grande salão do Pereira da Costa, junto à Capela de Santo António? As coisas foram crescendo, mas… diminuindo tempos depois. Em consonância com a modernidade, a modernidade dos desapegos, da fuga para a frente. Na minha opinião, Freamunde enfrenta a conflitualidade surda entre o que se comenta e o que se faz. Enganamo-nos na porta da vida? Fechamos a dos nossos ascendentes e perdemo-nos no que queremos, no que podemos fazer.
E o abismo? A perda do comércio é um sintoma. Mas há muito outros.
Eu vou vivendo no Freamunde virtual, o que se quer, o que se ambiciona, o que se sonha. O real está-se escapando. Não sei porquê! Mas… já não tenho idade.
Rosalina Oliveira