O debate sobre a crescente personalização da política é extremamente pertinente e actual. A imagem e perfis dos candidatos e líderes políticos são cada vez mais discutidos nas sociedades contemporâneas, facto atribuível, entre outros aspectos, ao processo de individualização. Os executivos são nomeados segundo os respectivos líderes e as campanhas eleitorais são cada vez mais centradas nos candidatos.
Nos meios de comunicação social, os recorrentes debates televisivos entre líderes alteraram a forma como estes são avaliados pelos eleitores. As características individuais dos políticos são avaliadas, as suas personalidades analisadas e a popularidade dos mesmos junto do eleitorado é frequentemente medida.
Os líderes têm, de facto, conquistado um lugar central no que respeita à comunicação política devido aos efeitos interrelacionados das inovações tecnológicas mediáticas e das mudanças organizacionais dos próprios partidos. Tal tornou os líderes políticos cada vez mais visíveis e, consequentemente, sujeitos a um constante escrutínio por parte do público.
Uma das principais consequências do processo reside nas transformações na forma como os seguidores (eleitores) entendem e avaliam os líderes. […] O foco ubíquo dos media em líderes individuais – e nos líderes enquanto indivíduos – de facto conferiu ao público a capacidade de os julgar como pessoas, assim possibilitando a aplicação de enquadramentos/molduras cognitivas normalmente empregues na vida quotidiana ao processo de avaliação dos líderes.
Mas que impacto terão as avaliações dos líderes no voto? Os regimes políticos estão a tornar-se mais individualizados e presidenciais? Estarão os líderes a assumir um papel preponderante face aos partidos políticos? E em caso afirmativo, que tipo de avaliações são feitas: com conteúdo político ou com base apenas na imagem mediática da personalidade?”
Frederico Ferreira da Silva em Análise Social.
Aos candidatos políticos
Uma palavra de agradecimento pela vossa disponibilidade em tratar da causa pública num horizonte temporal de difícil concretização e num ambiente mediático muito turbo, afectado que está pelas convulsões nascidas nas redes sociais.
A disponibilidade individual para dar a cara, em defesa dos interesses comuns, é hoje uma tarefa corajosa de quem está disposto a enfrentar contradições, tentar resolvê-las, e saber que, mesmo em caso de êxito, provavelmente, ninguém vos agradeçerá, pois, como sabem, em política não há gratidão.
A coragem necessária para percorrer este caminho – que nasce da vossa disponibilidade – tem de estar moldada por um carácter que não vacile ao discurso de contra-informação (hoje profissionalizada), e tolere o ataque pessoal, desvalorizando-o, diríamos esquecendo-o.
Apesar de as eleições serem disputadas por partidos e outros movimentos cívicos, a natureza da comunicação hoje em vigor personaliza o efeito no discurso da pessoa (aquele que comunica) e é visto (percebido) como declaração individual.
É aqui, nesta dimensão, que encontramos o caldo entornado servido nas redes sociais, onde todos definem a sua “solução verdadeira” sem necessidade de a explicar e muito menos fundamentar, e até insultar ou insinuar horizontes não verificados.
Ao contrário das redes sociais, os órgãos de comunicação social têm por imposição da lei de imprensa em vigor a missão de informar e enquadrar a informação produzida, de modo a fornecer ao leitor/seguidor elementos suficientes para que, enquanto eleitor, defina a sua posição individual e secreta.