Em Novembro passado em sede de disputa eleitoral interna no PSD escrevemos o artigo de que reproduzimos parte a seguir por descrever o ambiente que hoje se vive na comunicação social e na corte de Lisboa. Arrepios crescentes perante uma eventual vitória de Rui Rio no dia 30. Pela primeira vez na história, os “comentadores da corte” atribuiram a vitória do homem do Porto sobre o experiente primeiro-ministro no debate de ontem. Quando cheira a poder, em Lisboa, muda-se facilmente de perfume.
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O perigo das manobras, em política
Estas manobras entretêm bastante os nossos políticos profissionais. Olham para o imediato, os interesses particulares, deixando cair o essencial da discussão que seria saber (sendo necessárias e oportunas as directas) que tipo de primeiro-ministro pode dar o PSD a Portugal e que modelo político da sociedade tem para propor aos eleitores.
Neste momento, o PSD colocou a discussão na hermenêutica do futebol assemelhando-se ao candidato a presidente do clube que aponta os adeptos para a última aquisição de treinador ou jogador, garantindo o título que vem aí.
A vida ensina-nos o contrário. Os eleitores percebem o jogo e no momento da decisão contrariam com sorriso maroto as tendências “garantidas” das sondagens. Talvez volte a acontecer.
A corte em transe
Nos dias que correm, já não é necessário recorrer a aulas de etiqueta para entrar na corte. Os votos suficientes permitidos por Abril de 1974 colocam no hemiciclo personagens que a história nos relata como mais ou menos alinhados. Contudo só alguns podem aspirar aos lugares de decisão.
O campo da decisão é assim objecto de análises e condicionamentos observados fora do sistema e que acabam por ditar o perfil de quem pode ou não pode chegar a ela (à decisão). Assim se explicam as orientações editoriais (sobretudo das televisões), a escolha dos “comentadores”; e deste modo se massacra o eleitor com “o caminho a seguir”.
É certo que mais de metade decide não ouvir e por isso não vota. A outra parte assiste, progressivamente céptica. Enganam-se pois as sondagens, rapidamente corrigidas pelos habituais “comentadores” – não vão os abstencionistas decidir votar!
Voltando ao perfil…
A corte não tolera o perfil de Rui Rio. Desconfia sobretudo da sua incapacidade em adaptar-se “à circunstância” política, ele que refere (que chatice) o “interesse nacional” como regra de intervenção.
A partir daqui desconstróem-se os modelos de análise dos planos de “investimento”, as “arquitecturas” jurídicas como segurança e tampão das operações – uma “salgalhada” que afinal não vai permitir a elevação ao poder de um novo DDT (Dono Disto Tudo).
Precisamos nós todos de um governo independente dos interesses de grupo. Capaz de indentificar e mobilizar a população para etapas de desenvolvimento superior e permita promover a classe média, arrastando consigo a subida do salário mínimo.
Esta opção só pode ser garantida desde que acordada estruturalmente entre o PSD e o PS, onde radica mais de 70% do eleitorado! Todos sabemos isto. Então porque ninguém (publicamente) o defende?
Trabalhar esta ideia (não devia ser necessário) é tarefa para todos, menos para a corte de Lisboa. Aqui a intriga, a negociação, o interesse de grupo são servidos e apresentados como problemas por personalidades que além de os definir também apresentam (pois claro) a sua proposta de solução.
É esta política de “rabo na boca” que mantém o nosso país em progressiva degradação económica e social. Quem ganhou até hoje com esta “democratização da pobreza”?
O obstáculo à “democracia de sucesso”
O universo da corte percebe da coisa. Funciona como um clube privado. Poder entrar, pode. Depois há graus! São as chamadas redes a que pertence, sabendo-se que a ascensão – atenção, pode ser meteórica – é directamente proporcional à adpatabilidade do espírito e motivação para a aventura: ” o futuro começa hoje”- assim se respira na corte.
Estando pois todo o país a viver “o sucesso” da democracia, como tolerar alguém que o não compreende?
Foto: https://expresso.pt/politica/fact-check-a-10-frases-do-debate-rio-ou-costa-quem-foi-o-mais-verdadeiro/