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Idosos retidos em casa, centros de dia fechados

Odrama dos idosos retidos em casa aumenta e os Centros de Dia continuam fechados. Habituados e apoiados a soluções comunitárias de convívio os nossos maiores entram em depressão pelo siolamento banalizam o sentido de vida e começam a olhar para a morte como meta indeferente. As famílias sentem o desespero dos seus entes queridos e vêem-se entregues à sorte que o destino lhes apresenta.

“Esta é uma situação insustentável. Que vai continuar a agravar-se se a legislação não mudar” – referiu-nos Alfredo Cardoso, presidente da ANDS – Associação Nacional dos Dirigentes Sociais que se indigna com o silêncio da CNIS, a maior organização portuguesa de representações das organizações de solidariedade.

Lino Maia, presidente da CNIS, continua a defender o encerramento dos centros de dia temendo que caso abram se possam verificar mortes de idosos nestes locais, sublinhando a inevitável acusação por parte da opinião pública que poderá acusar as IPSS de acção criminosa caso haja infecção de idosos nos centros.

Esta posição do presidente da CNIS é de ter em conta porque real. Mas há dirigentes que referem que a situação actual de encerramento “está a matar idosos em suas casas”, sabendo-se que há registos de suicídios já verificados.

O “Sociedade Justa” conhece situações destas. E nunca as noticiou por também termos dúvidas sobre a solução a adoptar.

Contudo, dado o tempo em que esta situação se verifica, defendemos que o fecho radical dos centros de dia não é solução. De acordo com o presidente da ANDS entendemos que algo deve ser feito, provavelmente uma solução mista que permita aos centros de dia garantir a sua actividade, acompanhando o seu dia-a-dia.

Hipóteses

  1. Abertura diária dos centos de dia com um terço da capacidade, de modo que os utentes inscritos possam frequentar os centros de dia pelo menos de três em três dias.
  2. Reforço da capacidade laboral da IPSS de modo que todos os utentes sejam visitados diariamente pelos profissionais da instituição – caso o centro de dia continue encerrado.
Foto: EPA

Assistentes Sociais preocupados

“Há pessoas que estão completamente sozinhas, nem sequer família têm ou está longe. Foram para casa há três meses quando os centros de dia fecharam, com a declaração do estado de emergência. São essas que nos devem preocupar prioritariamente porque, em muitos casos, estão em estado de grande precariedade do ponto de vista físico, emocional e mental”, alertou Júlia Cardoso, presidente da Comissão Instaladora da Ordem dos Assistentes Sociais, em entrevista dada à Radio Renascença.

Incluídos nos grupos de maior risco de contaminação pela COVID, muitos idosos – sobretudo os que têm maiores dificuldades de mobilidade ou perda de capacidades cognitivas – estão em casa desde março. Alguns recebem apenas a visita das auxiliares do centro de dia que lhes levam a refeição, de segunda a sexta-feira. Para outros, foi preciso reforçar o apoio domiciliário.

Para os profissionais que estão no terreno, a realidade é clara e preocupante: muitos destes idosos estão deprimidos, a perder a mobilidade, não percebem porque não podem sair e estar com os seus companheiros de Centro, sentem falta das atividades e os estados demenciais e a dependência estão a avançar.

”Não há motivo nenhum para que nalgumas zonas do país, em zonas pequenas, onde há poucos casos de contaminação e está controlada, não estejam já a funcionar. Agora, na Região de Lisboa e Vale do Tejo, não sei como vai ser”, admite, receosa. Ainda assim, considera que a Direção Geral de Saúde e o Ministério do Trabalho e Segurança Social deveriam tomar alguma decisão. “As pessoas estão em casa a receber alimentação, mas sabemos que nem só de pão vive o homem. Já estavam em situação de grande fragilidade e com a pandemia, mais frágeis ficaram”.

A assistente social admite que nalguns centros a gestão dos espaços, com a exigência de distanciamento social, será mais difícil. Nesses casos defende um regresso faseado, dando prioridade aos idosos que estão mais isolados e dependentes, “as equipas sabem perfeitamente quem são”.

É preciso repensar o papel dos centros do dia

Júlia Cardoso considera que os centros de dia (salvo raras exceções, que elogia) não se têm adaptado às novas necessidades de uma geração que quer outras coisas. “E não é por acaso que, cresce o número de universidades sénior, onde as pessoas mais velhas, mas ainda com capacidades encontram uma resposta diferente, não só de convívio, mas também de cultura e aprendizagem. A oferta de serviços e atividades dos centros de dia manteve-se muito idêntica à que existia nos anos 80 e acabou por ficar ligado a uma ideia de ser para pessoas com alguma dependência”.

Júlia Cardoso considera que é preciso um trabalho articulado entre as autarquias, juntas de freguesia, autoridades, instituições e a própria sociedade que, tendo conhecimento de alguma situação de isolamento, tem obrigação de a sinalizar. “Sabemos que pode ser por opção, mas não é o que acontece na maior parte dos casos”.