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casa das artes
3 anos 1 mês

A história de Freamunde nas mãos de Joaquim Pinto

A grandeza e riqueza de uma terra, de uma comunidade é proporcional à quantidade de pessoas que se doam, que amam a sua terra sem esperar nada em troca, nem qualquer reconhecimento. Só que pessoas como o Joaquim Nascimento Bessa Pinto Gomes são raras. E as pessoas raras devem ser conhecidas para que o seu exemplo possa ser seguido.

Por alguns conhecido como o Joaquim Pinto, por muitos carinhosamente tratado por “Quinzinho Pinto”, nascido há 66 anos no “túnel” do Carvalhal, na residência à época de Emília Taipa e onde hoje reside o Enfermeiro Carlos Alberto. Criado até aos 11 anos em casa dos seus avós maternos, por quem tinha muito carinho, com o seu avô Joaquim Bessa, que chegou a ser Regedor no antigo regime e a avó Fernanda.

Os seus avós tinham uma oficina de tamancaria e o “Quinzinho” andava por ali, junto com o seu tio Domingos que também ali trabalhava, assim como o Fernando Veiga e o seu pai, Teodoro Veiga, o Luis Massoto, o Sr. Cristóvão.

Hoje e já há algumas décadas, é no início do “túnel” do Carvalhal que reside, com a sua mãe Julieta Bessa e a sua irmã Estela Pinto Gomes. A instrução primária foi feita nas Escolas Amarelas, da primeira à quarta classe e na mesma sala, com a Professora D. Adelina Braga, mãe do Dr. Braga Rego.

Não tem boas recordações desses tempos, sobretudo pelas condições de vida e sofrimento com que os seus amigos de escola viviam, alguns deles andavam descalços, mas também pelo sistema de ensino vigente na época, pelo trato que era infligido às crianças que considera ser nada digno e traumatizante.

Na juventude os tempos eram passados muito no quintal do seu avô, onde jogava futebol com o eterno amigo António Sousa e os saudosos Zeca Faria e Fernando “Peninha”, entre outros. O final da tarde tera passado a ver séries americanas como Bonanza, Lassie, Rikki-Tikki, no Bar dos Bombeiros, no Café Carvalho, Café Teles e outros, das redondezas.

O gosto pelo futebol ia aumentando e não saía do Campo do Carvalhal, onde jogava o Sport Clube Freamunde, clube de que o seu pai, Hermínio Pinto, foi dirigente e Presidente durante três anos consecutivos. Na altura o clube só tinha a equipa de juniores nos escalões de formação. Apresentou-se nos treinos e ficou no plantel, no entanto a sua documentação foi perdida na Secretaria.

Os campeonatos era curtos, tinham poucas equipas e acabou por nunca envergar a camisola oficial do clube. Continuou a treinar nos seniores mas a sua paixão maior, o dirigismo, acabou por despertar aos vinte anos como diretor do clube, encontrando aí também o Toninho Correia, o Jorge d´Arminda”, nas camadas jovens. Anos mais tarde, juntamente com o Ribeiro (antigo jogador), criam a primeira equipa de Infantis, contando também com a ajuda de Luís Rego.

A Direção não valorizou essa necessidade e não queria um aumento das despesas. Pedem à Direção que então emprestem o nome do clube para fazerem a inscrição, o campo e a carrinha, sempre que estivesse disponível. Com a ajuda de alguns amigos e venda de rifas pelos atletas, conseguem equipamentos, fatos de treino e outras regalias que nem os seniores possuíam e que causava algum espanto e questionamento entre os jogadores.

Foram quase vinte anos de dirigismo nos escalões de formação, como treinador e muitas vezes também a marcar o campo pelado com cal. Segue os passos e o pedido do seu pai para que desse continuidade a escrever como representante de Freamunde na Gazeta de Paços de Ferreira. Acabou por vir também a escrever para o Comércio do Porto, o Jogo, TVS.

Em 2008, o S. C. Freamunde comemora o seu 75.º aniversário e Joaquim Pinto escreve o livro da história do clube. Que belo e imprescindível presente. Quem poderia este escrever livro senão quem assistia a todos os treinos e todos os jogos. Não chegou a ver jogar o Zeca Mirra, mas lembra a fase final de carreira de João Taipa, que realça pela positiva. A classe como treinador/jogador de Santana, Júlio Guerra, Barbosa, Albino, Martinho, Justino, Ernesto, Couto, Venâncio, Abel, entre outros, fazem-no considerar a melhor geração do clube. Santana, por vezes, na falta de jogadores para a realização normal dos treinos de conjunto chama Joaquim Pinto, que plenamente satisfeito acaba por ir treinando durante duas a três época.

O ser bairrismo e gosto pela comunicação social, também ficaram registados como membro fundador da cooperativa da Rádio Inovasom, sendo o único membro que continuou até ao seu encerramento. Claro, também participou nos seus programas desportivos e nos relatos dos jogos do S. C. Freamunde.

Em 2012, aquando dos 190 anos da Banda de Freamunde, contactou o seu Presidente, o saudoso José Maria Taipa Nogueira, dando a conhecer que tinha escrito um livro sobre o secular e rico historial da nossa banda, acabando também por oferecer o grafismo e paginação

       

Garante que tem material e informação para escrever a história das associações de Freamunde. Joaquim Pinto, o historiador de Freamunde, também dedicou muito tempo ao seu blog, Freamunde, factos e figuras, onde pretendeu dar a conhecer a vida e obra, a biografia, sobretudo de freamundenses que em 1983 nas comemorações dos 50 anos de elevação a Vila foram reconhecidos e agraciados com a atribuição do nome de uma rua. Preocupava-o que alguém questionasse sobre o porquê de ter sido feita essa atribuição.

Manteve sempre a expectativa de que esse trabalho de interesse colectivo fosse reconhecido e editado. Sente uma desilusão por isso nunca ter acontecido. É isso que em 2021 vai conhecer a luz do dia, com a edição de um livro pela Associação Cultural e Recreativa Pedaços de Nós no âmbito das comemorações dos seu 20.º aniversário. Porque há pedaços de nós que devem ser dados a conhecer pelo seu exemplo e pela eternidade merecida das suas obras. Este gosto, esta paixão pela escrita, sobre Freamunde e os freamundenses, são como que uma herança imaterial do seu Bisavô Zezinho da Casimira, um dos freamundenses com nome de rua, e do seu pai, Hermínio Pinto.

O dirigismo desportivo não aconteceu só no futebol, mesmo não tenho pombos é apaixonado também pela columbofilia, tendo desde há 45 anos uma forte ligação à Sociedade Columbófila de Freamunde, quer como dirigente, quer como colaborador, o que ainda acontece. Em 1974 é membro da comissão de solteiros das Festas da Vila, assim se designavam as nossas festas ao Mártir S. Sebastião na altura.

Em 1991, é membro da Comissão das Sebastianas que viriam a ficar marcadas por após o seu final as máquinas terem começado o derrube da antiga Praça. É também o ano em que a Banda de Freamunde deixa de tocar na noitada de sexta feira. É convidada a Orquestra Típica de Águeda, passando essa noite a ser palco de concertos de vários géneros musicais, até à agora sexta-feira da Noite dos Bombos.

Cerca de treze anos mais tarde foi dirigente da Associação Sebastianas de Freamunde. Poucos sabem ou se lembram, mas o “Quinzinho” também pisou os palcos do teatro. Foi entre 1961 e 1962, na peça “Maria Migalha”, onde entrava no quadro dos sete anões. Em 1963, era fundado o GTF – Grupo Teatral Freamundense, onde viria a representar na peça “O Padre Piedade”.

Cumpria assim a tradição familiar no teatro, já que o seu bisavô Zezinho da Casimira, em 1908, era o encenador da Troupe Artística Dramática Freamundense. Joaquim Pinto teme que no futuro algumas associações não consigam cativar os jovens para o dirigismo associativo, que quando estas gerações dirigentes desaparecerem não haja continuidade desse trabalho e empenho.

Lamenta que muitos freamundenses não conheçam os seus maiores vultos na área da cultura como os músicos Jaime Rego, o Rogério Gomes, o Hélder Ribeiro, na área académica, como a Carla Lopes, na política, como o Dr. Alberto Cruz que foi parlamentar e o Brigadeiro Alves de Sousa, homens com influência em Lisboa.

Fernado Santos – Edurisa Filho, é a figura freamundense que mais o marcou, em todos os aspectos e por aquilo que revolucionou a terra. Conheceu mal o Professor Gil Aires, que tinha uma escrita forte, que arrepiava mesmo não sendo freamundense e por quem se sente inspirado a escrever, está sempre atual. Um professor como deve ser. Um grande homem, também se imiscuiu em tudo, era um homem multifacetado, ele conhecia tudo, treinador de futebol, boxeur, sabia nadar, fez travessias, ganhou prémios, era um desportista a sério, tinha uma compleição física admirável e a escrever era fora de série, eloquente nos seus discursos.

Joaquim Pinto, talvez não perceba que em todos os homens que admira pelo seu bairrismo, pela sua entrega e dedicação à sua terra está muito daquilo que ele próprio é, esperando que Freamunde como grande terra de cultura e artistas que é venha a ter no futuro um grande auditório, um espaço onde possa deixar o seu espólio, os documentos, a história da sua terra, das suas gentes.

Texto: Pedro Ribeiro