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INOVASOM: Uma rádio que se queria livre para um amplo projecto concelhio

Hoje, dia 13 de Fevereiro é o Dia Mundial da Rádio. Em 1946, a United Nations Radio emitiu pela primeira vez, um programa em simultâneo para um grupo de seis países. Há 34 anos, um grupo de freamundenses juntou-se para a criação de uma rádio na sua terra. Era a febre das rádios locais, também designadas como rádios piratas. Nascia a Rádio Inovasom. 
«Amortecidas as ondas de choque do impacto televisivo, a rádio ressurgiu, a nível mundial, como um fenómeno social com uma impetuosidade, com uma força vulcânica, um peso histórico tal que assinalou, em definitivo, a conquista da realização plena da expressão do pensamento e da intercomunicação humana». “Fragmentos da apresentação do projecto e sua definição, por Renato Magalhães”.
Foi, pois, neste contexto que surgiu a Rádio INOVASOM, após a primeira reunião formal, em 30 de Maio de 1986, de um grupo de freamundenses que decidiram, nessa altura, constituírem-se em Comissão Promotora de uma cooperativa dedicada à produção e emissão de programas radiofónicos para toda a área do concelho de Paços de Ferreira, com um projecto, cujas linhas de força ficariam orientadas para uma programação imaginativa, inovadora e dinâmica no campo musical, informativo, recreativo, de animação cultural e social, partidáriamente isenta e independente de todos os outros poderes constituídos.
Compareceram no referido dia 30, nas instalações do Clube Recreativo Freamundense, os bairristas Amâncio Vilhena Ribeiro, Joaquim Pinto, Carlos Taipa, Alberto Mendes, Hernâni Cardoso, Luís Manuel Pereira, Pedro Pedra, Nuno Barros e Renato Magalhães, que se dividiram nos cargos e tarefas a realizar. Dias após, novos entusiastas se juntaram: Fernando Correia, Jacinto Sousa, Juan Fernandez… Outros locais de reunião: Agência de Contribuintes de Freamunde, estabelecimento comercial de Luís Manuel Pereira, salão dos Bombeiros Voluntários de Freamunde, andar superior do edifício da Junta de Freguesia….
E foi aqui, no salão do velho prédio, na Rua do Comércio, gentilmente cedido pela vereação local, que se abriram então as portas da Rádio, a quem, de uma forma genérica, julgasse possuir o talento, a imaginação, o poder criador, a inteligência e o desejo de comunicar para trabalhar com os elementos fundadores.
E a verdade é que o “convite” foi aceite com entusiasmo e com amor por muitos freamundenses, sobretudo jovens de sangue azul a ferver-lhes nas veias. A INOVASOM rapidamente movimentou-se orientada numa programação rica e variada em diversas áreas.
Estou a lembrar-me de alguns colaboradores como, por exemplo, Joaquim Pinto, Pedro Pedra, António Matos, Filipe Pinto, Hernâni Cardoso, Professor José Neto, Carlos Freitas, José Moura Pereira…, no departamento desportivo (associativismo, futebol e desportos motorizados eram os temas mais visados).
No campo musical e informativo, Paulo Renato Costa, Adelino Correia, Pedro Lopes, (capacidades fantásticas destes jovens superdotados, “paus para toda a colher”, autênticos animadores residentes que passaram ao lado de uma promissora carreira radiofónica), Juan Fernandez, Amâncio Vilhena, Jacinto Sousa, Alberto Mendes, Paulo Campos, Luís Paulo Taipa e o programa “Bandas no Coreto”, Luís Manuel Pereira e a sua “Divina Arte”, o eterno nostálgico João Correia; grandes reportagens com Renato Magalhães; manhãs recreativas, duma audiência ímpar, com as duplas Carlos e Manuela “da Papelinha” (programas direccionados aos mais novinhos), e Arménio Pereira e Emília Soutinho … ( a música popular portuguesa sempre em destaque); acções de dinamização cultural e social com Professora Rosalina Oliveira e Fernando Santos.
O primeiro ensaio hertziano deu-se com a colocação, provisória, da antena na residência de Luís Manuel Pereira, na Plaina. Experiência bem sucedida e no dia 17 de Agosto de 1986, a “Voz de Freamunde ao serviço do Concelho”, em 89 megahertz, FM stéreo, iniciou as suas emissões de estação de rádio local, sem qualquer ajuda oficial.
As grelhas, entretanto, foram-se renovando e outros entusiastas apareceram.
Vivia-se o tempo do amadorismo puro, dos sonhos e das fantasias. Mas… a realidade foi outra: os assuntos sérios tomaram conta das primeiras emissões. O cemitério novo de Freamunde, benzido pelo Prelado da Diocese do Porto, D. Júlio Tavares Rebimbas, no dia 12 de Outubro de 1986, foi tema, numa abordagem pública deste acontecimento de grande interesse local para a Vila, que havia suscitado algumas apreensões e dividido as opiniões relativamente à sua utilização.
Assim, a INOVASOM pôs no ar, um programa especial, da responsabilidade do Departamento de Informação e coordenado por Renato Magalhães, subordinado ao tema: A Vida; a Morte; os Cemitérios. Dias após, 29 de Outubro, Maria da Silva Pacheco, popularmente conhecida por Maria “Reca”, foi a enterrar. Havia concedido a Renato Magalhães uma entrevista, no sábado anterior, para o programa em causa. Era uma mulher simples, uma mulher do povo, uma mulher para quem os sentimentos se sobrepunham à razão. Era uma figura popular, bairrista quanto baste, um pedaço de Freamunde. “Libertou-se” com as suas palavras, a sua emoção, o seu pensamento. A Inovasom deu-lhe “voz” na emissão que foi para o ar. O impacto foi enorme. Estava dado o mote para uma caminhada bem sucedida.
Curiosamente, as emissões iniciais foram transmitidas apenas às Sextas-Feiras, Sábados e Domingos, das 21,00 hrs à 1,00 da manhã. Não demorou a termos emissões regulares.
O êxito crescente das emissões difundidas, já alargadas no tempo (primeiramente com abertura às 18,00 hrs, depois a partir das 15,00 hrs e fecho às 24,00 hrs, diariamente), deu azo a que muitos jovens, levados pela “onda”, discretamente subissem as escadas carunchosas ( a porta de entrada nunca esteve fechada) à espreita duma oportunidade, dum «anda cá, não queres experimentar o microfone?».
Lembro-me do Pedro Ribeiro, do Orlando Correia, do Francisco Graça, do Nuno Gomes e irmão Zézé, do Jorge Ribeiro, do Amaro Costa, do Arménio Ribeiro, do Mário Meireles…, logo incorporados e sem necessidade de acesso a testes; outros de maior “peso”, tais como Carlos Cabral, Dr. Miguel Brito, Dr. José Carlos Carneiro…
Logo se aventou a hipótese de directos do exterior. E foi a Discoteca “Tocata”, enorme referência nocturna da Vila e de toda a região Norte do País, com a realização, no dia 6 de Dezembro de 1986, do 1º Rally Paper, a ser alvo duma grande cobertura informativa dum acontecimento que reuniu a fina flor dos pilotos que habitualmente participavam nas provas de autocrosse.
A segunda saída deu-se no dia 13 de Dezembro.
Uma vasta equipa de reportagem da Inovasom cobriu, em directo, a famosa Feira de Santa Luzia ou dos Capões, um dos “ex-libris” da nossa Terra. Ao meio-dia, na Quinta da Vista Alegre, por amabilidade do então Presidente da Junta de Freguesia, António Carneiro, aos elementos destacados bem como a outros membros da comunicação social e entidades convidadas, foi servida uma lauta almoçarada de capão.
No regresso a “casa”, depois  de um longo dia de trabalho, já se ouvia a “Carmina Burana”, sinal que a emissão terminara. O sinal horário das 24,00 hrs tinha patrocínio exclusivo da Ourivesaria e relojoaria Ponto Alto.
Um ano decorrido, para poder servir e promover Freamunde e o concelho em melhores condições, preservando e consolidando a sua identidade, a nova direcção, consciente das responsabilidades que recaiam sobre os seus ombros, promoveu a “Campanha dos 2.000 Transistores”, pretendendo assim sensibilizar todas as pessoas para a necessária colaboração e ajuda. Infelizmente, a receptividade foi diminuta.
Sem condições dignas em todos os aspectos, a Rádio Inovasom dotou-se de novas, adequadas e funcionais instalações, em casa alugada na Rua 25 de Abril. Após um curto interregno para que os preparativos de reabertura fossem ultimados, a voz amiga a que já estávamos habituados era de novo escutada.
Grelha de programas renovada surgiria. De “fora” batiam à porta entusiastas imbuídos de enorme paixão . Quem não se lembra do “lordelense” Ângelo Querido e os sons vibrantes do “heavy metal”, direccionados a uma legião de ouvintes? A Inovasom era um espaço de liberdade hertziana.
A qualidade da  rádio assentava na capacidade criativa dos seus colaboradores.
Entretanto, o número de emissoras existentes no país excedia, em muitas centenas os alvarás que iriam ser concedidos face à lei da rádio que entraria em vigor. Lei que se previa selectiva, exigindo condições muito difíceis de satisfazer, tais como instalações condignas, meios técnicos eficientes e apropriados, grau de profissionalismo… Potencialidade económica e financeira, de todo impossível.
A rádio estava por um “fio”. Só o Ernâni Cardoso (o “eterno maluco”) e um ou outro colaborador seguravam as “pontas”, adiavam o inadiável.
O “golpe” fatal foi dado com a legalização da Rádio Clube de Paços de Ferreira.
O “nosso” projecto foi por água abaixo. As portas da Rádio Inovasom fecharam-se de vez e Freamunde perdeu o único instrumento capaz de promover o seu progresso.
Fez falta, a INOVASOM, a Freamunde. Fez muita falta.
Texto e fotos: Joaquim Pinto – Blog Freamunde Factos e Figuras