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À ESPERA
casa das artes
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O baralho da Praça, uma memória remoída

Não nos sai da cabeça, daqueles de nós que ali respiraram a frescura no verão, ali comeram caldo verde nas noites das sebastianas, bateram baralhos e baralhos e se reuniam perante o esplendor da palmeira que tantas histórias nos brindou. Não sai nem vai sair. Contudo desapareceu por opinião quase unânime, perante a proposta de dar uma imagem à vontade de quem queria desenhar a “cidade” de Freamunde, que “precisava” de novas avenidas, “modernas” para cumprir as ordens do “progresso”.

Na altura vivíamos em Portugal a “democracia de sucesso” e por todo o país se rasgavam novas autoestradas e se iniciou a descoberta de uma nova aventura chamada “rotunda”. Também nessa altura chegaram os primeiros semáforos ali na fronteira com Ferreira – um progresso.

A decisão política – dos freamundenses e da Câmara da altura – produziu uma nova imagem, entretanto agora em substituição, e que jamais voltará a ser vivida, como outrora, pelos sucessores de quem isso decidiu. O verdadeiro e original e também primeiro “centro urbano do concelho de Paços de Ferreira” foi apagado, ao mesmo tempo que houve o cuidado de manter e preservar o jardim romântico da sede administrativa da nossa terra.

Ainda bem para nós que, querendo experimentar a beleza de um centro tradicional e de época arquitectónica, ainda podemos ali deslocar-nos para experimentarmos as sombras que perdemos, os perfumes que aqui não encontramos. Ao destruirmos a praça antiga, abrimos o caminho para convidar os freamundenses a visitarem Paços e a tomar um café no Amândio (o original também já não existe).

Em Freamunde não temos Muro das Lamentações. Pelo que importa olhar para o património – cultural. ambiental e paisagístico – perdido e percebermos como reagir a esta tragédia. E talvez o melhor caminho seja evitar que esta questão seja debatida na narrativa política, muito menos partidária, pois foi nesse universo de opinião que se gerou – quase unanimemente – a decisão que hoje lamentamos.

Como referiu Teodoro Faria numa publicação sua no facebook: “Onde estavam os freamundenses (da treta) fundadores do actual grupo “a praça de volta a Freamunde ” há 30 anos atrás, quando esta mesma praça foi demolida?

Em 2008, a junta de freguesia de Freamunde, aprovou a construção de um novo centro cívico para Freamunde, ao fim de 13 anos, e alguns milhões gastos, a mesma junta de freguesia ia deitar abaixo (aquela beleza).
Surgiu então nessa altura um movimento a reivindicar a praça de volta ao centro, visto ser o momento ideal, uma vez que iam demolir todo o centro cívico. Onde estavam os freamundenses (da treta) fundadores do actual grupo “a praça de volta a Freamunde) ? apoiaram esse movimento, NÃO.
Estes dados históricos e indesmentíveis precisam de ser reflectidos por todos. Os dados devem ser analisados tal como são e avaliados pelo valor que têm para que se encontre um caminho que resolva o problema. É claro que, na nossa terra, todas as questões são discutidas com muita emoção e, quase sempre, em vez de serem avaliadas pelo valor que essas ideias têm, são assumidas, vistas e apreciadas pelo respeito ou falta dele que se tem pela pessoa que a diz ou pelo que ela representa (associação, emprego, partido político e outras coisas mais que não interessa para aqui).
Entendemos assim que a campanha eleitoral, neste momento a decorrer, não é a melhor altura para se encontrar um caminho para responder a uma necessidade – como garantir que Freamunde volte a ter um novo centro cívico, construído de acordo com a arquitectura da época e assim se consiga recuperar da tragédia histórica que produziu o seu desaparecimento?
A Rádio Freamunde, como rádio comunitária que é, promoverá no âmbito das suas funções – definidas no seu estatuto editorial – um debate e estudo aprofundado sobre este tema. Pretendemos cumprir a nossa obrigação. Vamos fazê-lo depois de terminado o actual momento eleitoral, dado que não nos compete intervir nesse palco. Respeitemos e demos tempo aos partidos políticos, eles que são a garantia de funcionamento da democracia. Que, por vezes, também comete erros, como aconteceu com a “vontade do povo” ao aprovar a liquidação da Praça.