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casa das artes
3 anos 1 mês

Wenceslau Meireles – o sorriso e o emblema

Wenceslau Meireles – marceneiro de Ferreira – morreu hoje vítima de AVC. Apaga-se o sorriso de um homem que partilhou a história de Ferreira e Freamunde com todos nós, sempre disponível para  esclarecer o que precisávamos de saber.

Encarou a vida com a herança do humor de seu pai Flávio, e meu querido avô, que com a experiência tida na Grande Guerra conseguiu apontar-nos o caminho para o que realmente interessa – a vida familiar e o sucesso da nossa terra.

Sempre terminava a conversa, com cada um dos seus amigos, deixando cair a sua visão sem a impor. E gostando do êxito de todos , sempre partilhava as suas informações preciosas.

Em Moinhos, lugar de Ferreira, nasceu um dia um cruzamento com semáforos. sinal da cidade que crescia. Assistimos à inauguração , virou-se para mim e quase em silêncio disparou: “o que diria a minha mãe se quando me mandava à água à Mouta eu lhe dissesse que tinha de parar nos semáforos”!

Via o progresso com optimismo e sentido crítico, e lembrava-nos a história escondida por debaixo das coisas. Fazia-o como ninguém.

Em Ferreira foi dirigente da JOC quando era jovem, experimentando os novos mundos que a paróquia, dirigida pelo padre Carlos Ribeiro, mostrava nos anos 60. Aqui viveu a sua vida e reforma, partilhando o espaço do centro de dia do Centro Social e Paroquial com seus vizinhos de sempre, e onde ao padre João Pedro falou da nossa terra e da nossa gente.

Em Freamunde acompanhou o seu clube de coração que trazia à lapela – um emblema que dali nunca saiu. E à noite, por vezes, ia à casa do Sporting partilhar outra das suas paixões.

Perdemos hoje também um analista conhecedor das particularidades da história da nossa terra.

Agradeço a companhia que me fez e por me ter levado pela primeira vez a uma noitada das Sebastianas. Foi uma segunda-feira, andava eu ainda de calções, comemos caldo verde na Praça, vimos as marchas e voltamos a Moinhos, para dormir à luz das estrelas de um céu quente de emoções.

Ele vai descansar em paz, repousará no sono dos justos e manter-se eterno, pelo menos, na boa memória que em todos deixou. E que perguntamos: agora a quem vamos perguntar o que não sabemos da nossa gente em Ferreira e Freamunde?

Arnaldo Meireles

Post-scriptum: o meu tio Lau ensinou-me a festejar a alegria da vida partilhada com todos nas Sebastianas, o tio António os nomes das ruas de Freamunde, o tio Albino o sentido da autoridade, o tio Arnaldo o serviço aos outros, o tio Zé a contar histórias, o tio Campos e a tia Tina a ver o Freamunde sentado a seus pés em cima da bola no Carvalhal,  e, o meu pai, além de muitíssimas coisas, a ouvir a Banda, em cabazadas de cinco a zero. Todos me ensinaram a gostar de Freamunde como se fosse uma sociedade secreta. Ninguém imagina a honra que tenho de pertencer a esta família.