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A tarefa difícil de derrubar o PS

O orçamento de Estado acaba de ser reprovado com 117 votos contra, 108 a favor e cinco abstenções, dando-se por terminada a geringonça que sustentava o governo do PS desde 2015. PCP e BE entenderam que precisam de eleições para redefinirem forças, num momento em que o PSD e CDS discutem a liderança e o centro-direita procura uma narrativa política ainda indefinida.

António Costa poderia/deveria continuar a governar, mesmo com orçamento reprovado – opção de duodécimos – não fosse o frenesim de Marcelo Rebelo de Sousa, ter anunciado precipitadamente que dissolveria o parlamento caso se verificasse o chumbo, como aconteceu.

Hojé á assim um dia de “glória” para os partidos Chega e Iniciativa Liberal que depois de há dois anos terem chegado ao parlamento têm pela frente a oportunidade de alargar a sua representação parlamentar, dada a fragmentação que se assiste à direita.

No dia 4 de dezembro o PSD decide (mais uma vez) quem o vai liderar, numa disputa entre Rui Rio e Paulo Rangel, este ontem a ser (surpreendentemente?) recebido pelo Presidente da República…. Dentro de dias o Chega relegitima André Ventura em novo congresso, e o CDS reúne na mesma ocasião para decidir entre Rodrigues dos Santos e Nuno Melo.

Esta agitação na corte de Lisboa entusiasma os jornalistas e os comentadores do reino  que vão analisar o pântano criado por Marcelo, ao retirar espaço de manobra política aos partidos e seus líderes. Também é consequência do fanatismo de António Costa que salvo politicamente pelo PCP em 2015 lhe prestou vassalagem ao definir por iniciativa própria que “no dia em que o seu governo dependesse do PSD” deixaria de ser primeiro-ministro.

Dir-se-ia que novas eleições funcionam como um “reset” e tudo recomeça de novo. Talvez sim, talvez não: o presidente da República será o mesmo (nenhum líder pode pois estar tranquilo!) a maioria sociológica não tende a mudar, e ninguém acredita em milagres de recriação.

Actos de fé em política dão nisto: um inesperado bloqueio, bastando para isso uma vitória do PSD na Câmara de Lisboa por um putativo líder laranja.

Há dois meses, tão pouco tempo, Marcelo (sempre ele!) deixava cair no Expresso que António Costa sairia em 2023, querendo ele antecipar as decisões internas do PS. Este chumbo mexe com as entranhas de Costa, mesmo não querendo vai agora limpar a honra e apresentar-se a eleições. Como hoje lembrou Catarina Mendes no parlamento, “falta agora derrubar o PS”.

Pelo menos até março, teremos eleições. Com o horizonte macroeconómico que se adivinha, as circunstâncias políticas de agora – como seria possível reeditar a geringonça depois dos amuos de hoje – seria crucial a eleição de Rui Rio no dia 4 no PSD.

Um governo de salvação nacional com o apoio do PS e do PSD, seriam uma oportunidade para serenar a política, a economia e preparar o futuro do país. Mas tudo indica que a contabilidade partidária vai continuar (até quando?) a impedir esta solução.