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casa das artes
3 anos 1 mês

Comunicar com adolescentes em tempo de pandemia!

Muito se tem falado acerca da dificuldade de se prevenir o COVID 19 junto das populações mais jovens, mormente acerca da dificuldade de se fazer passar uma mensagem de consciencialização e interiorização verdadeiramente significativa, uma mensagem persuasiva e preventiva que mude atitudes e comportamentos destas faixas etárias perante a ameaça de se infetarem com o Covid 19 e propagarem a doença. Desde logo, esta ideia parte de um pressuposto erróneo, pois não há juventude mas juventudes, não há adolescência mas adolescências. Desta forma, a mensagem a passar terá que ter em consideração a etapa da vida e a vivência contextual dos vários grupos que compõem estas categorias.

Mas, para além deste axioma, em primeiro lugar é preciso perceber que mudar comportamentos não está diretamente e exclusivamente relacionado com a falta de informação, ou seja, podemos ter informação e não mudar atitudes ou comportamentos. Se quisermos, por exemplo, a maior parte das pessoas tem consciência e informação acerca dos malefícios do tabaco e não é por isso que deixam de fumar. Assim, convém pensar que a solução pode não estar somente na mensagem, não obstante, esta ser sempre importante, devendo ser passada da forma mais eloquente possível, desde logo, sendo entendível e facilmente percetivel. 

Por outro lado, centrar a comunicação em mensagens de medo, não será a solução uma vez que com o tempo há tendência para uma certa dessensibilização por parte dos recetores, especialmente se forem jovens, nomeadamente, à medida que percebem a incoerência entre a mensagem e a realidade, entre a mensagem do medo e as mortes por adoecimentos junto de amigos e colegas, tendendo a descredibilizar e a desacreditar a própria mensagem. Até porque, sendo um período marcadamente egoico, os jovens estão mais preocupados consigo do que propriamente com a possibilidade de contagiarem outros.

Logo, a informação deve ser adequada, verdadeira e fornecida por alguém que seja percecionado como pessoa credível. Estas mensagens devem ser, também, bilaterais, isto é, serão tanto mais profícuas quanto mais usarmos modelos de pessoas jovens que foram infetados demonstrando as suas consequências face ao sucedido, em contraposição com jovens que não o foram e continuam a seguir as suas vidas normalmente.

Mas, também, não valerá de muito centrar a mensagem das consequências a longo prazo, uma vez que os adolescentes e jovens tendem a valorizar mais o imediato do que o futuro, mais as consequências da infeção imediatas do que as hipotéticas de um futuro incerto. A este respeito, recordo sempre os meus tempos de trabalho na prevenção das drogas e das inúmeras ações de sensiblização que orientei para jovens, em que era frequente constatar que uma das consequências que mais os preocupava, que mais levavam a sério, era quando lhes era explicado, e demonstrado com exemplos científicos, que o consumo compulsivo de determinadas drogas tem como resultado possível a diminuição das capacidades sexuais masculinas, no curto e médio prazo, e tal porque a sexualidade é algo crucial nesta fase da vida.

Mas tal não chega, pois devemos juntar a característica da mensagem honesta e informada, à do emissor atraente. Isto é, tem que ser alguém significativo e significante a passar a mensagem aos jovens, pessoas com quem esses jovens se identifiquem e admirem. De outra forma, se a informação já tem o valor que tem, que é relativo e insuficiente para mudar atitudes e comportamentos em larga escala, conseguir-se uma mudança da incidência de infeções por COVID 19 por via do incremento da informação persuasiva simples e sem levar em linha de conta os aspetos supra enunciados,  torna-se praticamente impossível.  

Se o caminho é capacitar os jovens, através da aprendizagem, para adequarem os seus hábitos, rotinas e comportamentos prevenindo o COVID 19, há que adequar a informação às  várias categorias de jovens existentes, às suas fases de vida e, sobretudo, é fundamental estarmos cientes das limitações destas abordagens informativas ao mesmo tempo que teremos que interiorizar que uma eventual mudança de atitudes e comportamentos dos jovens surgirá, sobretudo, a partir do momento em que mudarem as suas representações acerca da doença. 

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Marcos Taipa